O Mundo é Azul
 



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O Mundo é Azul

Olho no Olho


Nunca me esquecerei daqueles olhos ardentes, castanhos, mas, azuis, pra mim. O incêndio me pegou quando eu menos esperava. Labaredas cor do céu me acariciam até hoje. Mora por aqui? Não, moça, eu só trabalho aqui perto, fico neste ponto de ônibus na hora do almoço. E você? Trabalho lá no centro. Bem que eu notava que ela estava sempre com uma saia azul e uma camisa branca. É o seu uniforme? É. Ela riu. Você estuda? Parei no segundo grau. Eu queria fazer Medicina, mas minha família não pôde bancar, por isso também parei no ensino médio. O lotação havia chegado. Durante alguns dias eu fiquei de plantão ali, só pra poder vê-la, e, às vezes, conversar com ela. Mas tudo tem um fim, e, de repente, talvez por medo (meu olhar incendiava muito mais do que o dela) num dia muito ensolarado e sem uma única nuvem no céu, eu a vi pela última vez. Nunca consegui nem perguntar o nome dela, as únicas lembranças que tenho são daqueles olhos, pra mim, cor de um céu sem nuvens, daquela camisa branca e daquela saia cor de anil. Dali em diante o mundo pra mim era sempre azul.

 

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